terça-feira, 24 de maio de 2011

Ribombar

O beijo depositou-se em tua boca
E teve a arrogância de ser dono dos segundos...
Ser beijo eterno para nunca mais acabar.

Mas tua boca interrompeu o beijo,
Para perguntar com certeza prévia,
Se a tempestade viria para o nosso lado.

Foi quando o trovão me atingiu a cabeça.


 

24/3/1998

sábado, 21 de maio de 2011

Íris

Evitar seus olhos talvez seja medo,
Uma maneira de me por em segurança
Diante deste sentimento iniciante.

Talvez seja medo de ver meus próprios olhos
A se refletirem na profundidade dos seus,
Em busca do brilho que pode não vir.

Não mergulho em seus olhos
Pra não vasculhar seus segredos
E me arriscar a não me ver entre eles.

 

16/07/1994
Da Série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (4)

"A vida já é injusta com os vitoriosos, quem dirá com os perdedores".
Da Série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (3)

"O amor dos homens não está previsto em sua habilidade para jogar futebol".

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Todos Os Dias

Eu quero todos os dias essa alegria,
Acordar todos os dias ao lado desse milagre,
Ter todos os dias sua companhia e minha salvação.

Eu quero que tudo se repita enquanto eu for vivo,
Todas essas pequenas coisas que eu busquei tanto:
Poemas bem aceitos, apegos de família, prazer sem tristeza.

Eu quero todos os dias essa sintonia,
Perceber todos os dias a solidão enterrada mais funda,
Ver todos os dias você renascendo de um sonho sem fim.

                                                               (Para Minha Marta)
 

27/10/2010

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Cavalo de Tróia 

Imaginei ter aprendido a evitar a dor
Destas chagas abertas por afeição,
Estando a salvo da feroz investida,
Tendo vetado o amor ao pensamento.

Mas foi um engano, uma mentira e um erro,
Querer estar fechado para ter integridade,
Meu engano revelou-se pelos teus olhos,
Minha verdade virou mentira no teu sorriso.

Desci de minha torre, de meu resguardo,
Para ter certeza do tesouro encontrado,
Mas esta arca não se abre com minhas chaves,
Está nas mãos, mas não posso perscrutá-la.

E quando aberta, era dor seu conteúdo,
Como as dores que obtive na luta,
Não havia nada de bom no provento,
Requinte de oferta troiana.

 Tróia

26/12/1997

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Ribalta em Off

Espanto-me com a descoberta de escombros,
A escuridão na ribalta que planejei,
Tenho medo das pessoas e me escondo,
Esta salva de palmas quase me agride,
Preciso de silêncio para criar,
Manifestar toda minha desilusão
Com a ruína de novo castelo de sonhos.

Vou escrever um novo drama,
Onde absolutamente não me encontre,
Compor minha personagem silenciosa,
Imprescindível do alto de meu esconderijo.

Até me sentirei como Deus detrás do pano,
Ali eu matarei quem bem entender
Ou será uma ressurreição a cada novo ato:
- Levanta-te e anda!

Vou ser pornográfico, vou ser santo,
Não vou deixar nada no lugar,
Mas não estarei presente no mundo que criei,
Que sou um criador incorpóreo e sei meu lugar.

 

07/12/1996

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Matéria do Pão

Tenho desejado tantas pessoas a meu lado,
Fiz uso da poesia para abrandar minha fome
E encontrei mil fontes inspiradoras,
Corpos mais ou menos perfeitos,
Que guardei para devorar no fim de tarde,
Quando a solidão é coisa mais premente,
Tanto fora quanto dentro de mim.

Tenho desejado tantas pessoas
E tenho visto meu alimento perder-se,
A preciosidade dos grãos perdidos na areia,
Meu trigo, meus grãos de mostarda,
A falta de pão, a falta de alguém em meu corpo.

Tenho desejado tantas pessoas a meu lado,
Fiz plano para meu repasto entre saraus
E meu leito fez-se távola vazia,
Corpos totalmente ausentados,
Que esperava devorar através da noite,
Quando a solidão era a fome mais abrupta,
Tanto fora quanto dentro de mim.

Meu alimento misturou-se com o vento
E a matéria do pão revolveu-se
Com os flocos de areia...


 

31/8/1997

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Curvatura

Sou caudaloso, tão logo o cansaço da retidão me atinja,
Enquanto olho o campo verdejar, com minhas vistas cinzas,
Meu coração turbulento e meu ofegar monóxidos.

Lá não tem tanta fumaça de carros, lá na minha terra natal,
E tem menos assassinatos e menos raves (nenhuma!) pra gente ir,
Lá não tem alternativa, senão não alternar nunca...

RETIDÃO SEMPRE! A perfeita hipocrisia da perfeição,
Comportar-se, compor-se, comprimir-se...

OUSAR NUNCA! O mundo se delimita aquém dos pastos,
Da serenidade dos pastos, do bucolismo dos pastos,
Da bosta verde dos pastos...

O que quero eu dizer com isso?
Que não amo minha terra parca e provinciana?

Amo-a.
Estou indo pra lá como bom filho da terra,
Logo eu que nunca fui desses exemplos de patriotismo.

(Oxalá, um dia os States comprem a gente!)

Filho rebelde à casa torna, mas não fica.


8/12/1999

sábado, 14 de maio de 2011

Anacrônicos

Calculo que deixei de ter você,
Não pelo amor ter sido extinto
Ou o desejo ter sido aplacado.

Foi o tempo que deixou um imenso vão entre a gente,
Jogou-nos nesse mundo em épocas diferentes...

Quando você nasceu, eu já tinha medo do amor,
Já tinha me desiludido quase a ponto de desistir,
E você aí, na segurança da verdadeira inocência,
Vindo na minha direção através de tantos anos...

Foi o tempo que desacertou nossos ponteiros,
Foi o tempo que passou pra mim, começou pra você...

 

03/03/2010

Da Série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (2)

"É proibido criar cavalos no apartamento".
Da série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (1)

"A única pessoa desconhecida que me permito ser, sou eu mesmo".

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Velho Gato do Armazém

A vida foi passando
Bem diante dos meus olhos
E eu pouco me importava
Se os dias não eram de meu domínio
E amanheciam para anoitecer.
Eu respirava compassadamente,
Como se não importasse
O tardar das horas
Ou o tempo ultrapassado.
Julgava ter sete vidas,
Cada uma a viver em plenitude,
Todas com uma gama de possibilidades
De viver vendo a vida passar.
Lá fora as ruas estão vazias,
Vejo meus iguais sobre os muros.
Eles também deixam a vida passar
E logo a noite cairá sobre eles.
A vida ia passando
E eu pouco me importava,
Vez em quando recebia um afago
E me sentia o dono do pedaço.
Aqui do meu canto eu vejo tudo
E não digo palavras tolas
Que poderiam machucar.
Ás vezes desfilo por aí,
Quero alegrar alguma criança
Que esteja um tanto sombria.
É que eu sei encantar,
Mesmo sem poder sorrir.
Aquele homem no canto me chama,
Seus olhos estão sem esperanças
E ele me murmura seus segredos,
Com a certeza de que não os vou espalhar.
Era assim mesmo que a vida passava,
As ruas continuavam vazias,
Andradina não estava em festa
E ainda podia ver meus iguais,
Que passavam do alto dos muros
Para os telhados das casas,
Do lado inverso da rua.
A vida foi passando
Bem diante de meus olhos,
A noite caiu sobre todos nós.
E o dono do armazém veio
E fechou as portas.

 

22/12/1995

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Graal

Sobre toda essa minha busca
Pelo inexistente defendido,
Pairou sempre a luz da certeza.

Estou certo de que o cálice não estará vazio,
Estou certo de que beberei dos teus cuidados,
Nada fará com que eu desacredite
Naquilo que de mais valioso tenho.
 










31/12/2008

terça-feira, 10 de maio de 2011

Se Eu Cruzasse A Ponte

O retrato me arde as vistas,
É como uma ponte incorrigível
Entre esta e a outra década...

As nuvens plúmbeas e mortiças no céu,
Vazio automotor na avenida principal,
O campo santo onde eu queria meu termo,
Tudo enquadrado e, lá em cima,
O colégio onde tropecei no amor de fato
E punha torpedos dóceis sob uma carteira.

Era um tempo de especular a vida
E minha curiosidade falhou...

Se eu pudesse transpor a ponte
Entre essa e aquela década,
Faria tudo diferente?

Buscaria novas metas e acertos?

Faria tudo identicamente, sim,
E depois um retrato saudoso,
Com sua dormência afetiva,
Me arderia as vistas, de novo....


15/03/2001

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Brejo Triste

A bênção, padrinho!

O senhor não era pra ter morrido, não...

O senhor morreu e a fazenda morreu junto.

Derrubaram a casa branca,
Desfalcaram as laranjeiras,
Baniram as galinhas caipiras...

E o jipe branco que não roda mais,
Cortando a estrada, indo comprar pão?

E a papagaia atrevida, que não canta mais meias canções?

A fazenda se afundou num brejo triste, padrinho...

O senhor não era pra ter morrido, não...

10/03/2010

sábado, 7 de maio de 2011

Ártico

O amor me vem de novo,
Com sua ênfase inquestionável
E sua felicidade aparente.

Mas já me esqueci
- Arre! –
Os caminhos para o Ártico.

 

07/10/1994

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Galos Cantando

Talvez nada disso esteja aqui
Depois que o galo cantar
E o Sol voltar a alumiar
Os caminhos do mundo.
               
Talvez eu volte a me partir
Depois que a dor recapitular
E o amor se desmascarar
Como um inimigo profundo.

Talvez eu venha a me demolir
Depois que o tempo passar
E ela não se entregar
Para tornar meu solo fecundo.

Talvez os galos cantem avisando
Que o amor não esperou o dia amanhecer.

 

14/12/1997

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Evasão dos Anjos

Não há mais anjo que me guarde
Meu grande amor não se realizou,
Sou imperfeito, sou tão imperfeito,
Ser que se desfaz em amor.

Estou no âmbito da solidão,
Ela me faz companhia desde que perdi,
Sou imperfeito, sou tão imperfeito,
Ser que comete erros por amor.

A grandeza se fez distante
E há pouco a fazer nesta vida,
A recuperação do irrecuperável,
O desastre do tempo perdido.

Roguei por um anjo protetor,
Na orientação de meus passos,
A vida não tem singeleza,
O meu Senhor não enviou proteção.

Sou imperfeito, sou tão imperfeito,
E sozinho não aprendi a perder.

 

13/12/1996

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Caçador de Guaxinins

O amor me causa estranheza
E me desgosta, e me sufoca,
E me implica em seus caprichos...

O amor é sentimento traiçoeiro,
Mas não sai do peito, está sempre á volta,
O mais fiel dos caçadores de guaxinins.

O amor nos leva até lugares impossíveis
E a lugares fragosos da alma,
Caça-nos em cantos tão retirados,
E nos traz a solidão presa entre dentes.

 

01/11/1992

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entorno da Ampulheta

Ao me parecer com todos,
No tempo de todos,
Sou uma falha nas areias que escoam,
Sou uma obstrução na ampulheta.

Aonde vou, se esta areia se esgota,
Antes que meus sentidos prestem atenção
À ampulheta esgotada e ridícula,
Em sua ilusão de mobilidade?

Vou entornar a ampulheta,
Na mesma ampulheta e um giro
De areias repetidas e inequívocas,
Novo escoar no mesmo giro.

Uma ampulheta escoada e imóvel,
Impressão de tempo regurgitado,
Quando não se progride nesse ato
E a vida quase já se esgotou.

 

28/04/2002

domingo, 1 de maio de 2011

O Roseiral

As flores desabrocharam,
O amanhecer tinha algo diferente,
Pois que o vazio em meu peito
Já não era a mesma lacuna...

Logo vi você caminhando
Entre os canteiros,
Sua beleza se confundindo
Com a beleza daquelas rosas.

A brisa fagueira
Soprava-me leve perfume
Que eu não saberia dizer
Ser das flores no jardim
Ou de quem me cativou.

As flores desabrocharam,
Como um novo amor que surge
Bem diante dos olhos,
A rosa mais perfeita que brota
Entre milhares de rosas.

 

12/01/1996