quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Velho Gato do Armazém

A vida foi passando
Bem diante dos meus olhos
E eu pouco me importava
Se os dias não eram de meu domínio
E amanheciam para anoitecer.
Eu respirava compassadamente,
Como se não importasse
O tardar das horas
Ou o tempo ultrapassado.
Julgava ter sete vidas,
Cada uma a viver em plenitude,
Todas com uma gama de possibilidades
De viver vendo a vida passar.
Lá fora as ruas estão vazias,
Vejo meus iguais sobre os muros.
Eles também deixam a vida passar
E logo a noite cairá sobre eles.
A vida ia passando
E eu pouco me importava,
Vez em quando recebia um afago
E me sentia o dono do pedaço.
Aqui do meu canto eu vejo tudo
E não digo palavras tolas
Que poderiam machucar.
Ás vezes desfilo por aí,
Quero alegrar alguma criança
Que esteja um tanto sombria.
É que eu sei encantar,
Mesmo sem poder sorrir.
Aquele homem no canto me chama,
Seus olhos estão sem esperanças
E ele me murmura seus segredos,
Com a certeza de que não os vou espalhar.
Era assim mesmo que a vida passava,
As ruas continuavam vazias,
Andradina não estava em festa
E ainda podia ver meus iguais,
Que passavam do alto dos muros
Para os telhados das casas,
Do lado inverso da rua.
A vida foi passando
Bem diante de meus olhos,
A noite caiu sobre todos nós.
E o dono do armazém veio
E fechou as portas.

 

22/12/1995

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