quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Quatro Ponto Zero

Nesses meus quarenta anos
Amei irresponsavelmente,
Derrubei castelos fantasiosos,
Constituí uma magnífica plêiade de loucos.

Nesses meus quarenta anos
Gozei porres homéricos,
Quebrei cristais dispensáveis,
Destruí uma conformidade monótona.

Nesses meus quarenta anos,
Versifiquei incompetências,
Compus canções não comerciais,
Sorri amargamente perceptivo.




19/10/2011
Aos Quarenta

Tentei chegar até aqui sem me machucar,
Todos os meus erros foram bem intencionados,
Jamais cometi um dano plenamente calculado.

Todo o meu amor e toda a minha maldade,
Todo o meu ódio e toda a minha fé,
Tudo isso foi sinceramente concedido,
Jorrou de mim espontâneo e sem projeção.

Tentei chegar até aqui sem manchas,
Vivi sempre no turbilhão da incerteza,
Assumindo meus sonhos e minhas mortes.

Não atravessei incólume essas quatro décadas,
Fui sempre louco, dançando ciranda com a vida.




19/10/2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ordem

Sei bem pouco de mim mesmo
E agora estou sempre assim,
À inteira disposição de minhas neuroses.

Sou bem pouco sensato
E agora não profiro palavras de ordem,
Não ouso participar deste mundo banal.

A excessiva coerção da ordem me aflige
E não gosto dela.

“É PROIBIDO FUMAR”

Não fumo mais e nem pinto placas de proibição...





15/11/1994

quinta-feira, 8 de setembro de 2011


Caminhando e Levando Topada

E o menino segue seu caminho.

Vai tropeçando em erros,
Vai caminhando e levando topada.

O menino segue sua estrada.

Vai pisoteando a própria sorte,
Vai caminhando e levando topada.

E o menino segue por um dos atalhos.

Vai se apressando por um dos caminhos,
-O caminho certo, meu Deus?-
Vai caminhando e levando topada.




29/10/1994


Carijó

Uma galinha carijó cisca um terreiro,
Lá pros confins da minha terra.

A galinha carijó percorre um mundo limitado,
Que lhe representa o infinito.
Ela não nutre maiores esperanças,
Nem alça vôos sobre cordilheiras.

A galinha carijó atravessou a rua,
Despreocupada com as coisas do mundo.
Passou um homem e alguns pertences,
Fugitivo dos limites daquela cidade.

E a galinha carijó continuou ciscando a terra,
Sem saber dos males da Capital.



11/9/1996

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Isolamento

Tenho sentido saudades de me isolar
Com as minhas coisas,
Trancar a mim mesmo
Em meu baú de guardados,
Romper essas novas amarras,
Estar a sós comigo.

Preciso escapar do mundo exterior,
Calar minha boca,
Gozar meus prazeres,
Silenciar com minhas verdades...

E relaxar, dividindo meu leito
Com a solidão bem povoada
Promovendo discursos esparsos,
Flanando absoluto no deserto.



27/07/2011





segunda-feira, 18 de julho de 2011

    Gatinhos Choram 

      "Se existe algo que a vida me ensinou é o seguinte: nunca chore por alguma coisa que não possa chorar por você...", disse, certa vez, o ator italiano Vittorio de Sica. Discordo e tenho pena de pessoas assim...
      Minha gatinha Batata morreu no sábado, com poucos meses de vida, dizimada por uma doença horrível e deixando meu coração em pedaços. Chorei muito e não tenho vergonha de confessá-lo.
      Queria muito ver a Batatinha crescer, brincar no gramado do quintal, rosnar pela comida, ronronar no meu colo e isso não vai mais acontecer...
      E quando ela miou triste, se despedindo da gente, senti ali uma lágrima...
      Gatinhos choram, Seu Vittorio...



18/07/2011
Batata

Um bichinho vai embora
E leva um pedacinho da gente...

Desculpem-me essa sentimentalidade,
Mas minha gatinha morreu
E, homem feito, chorei por isso,
Arrebentei meu peito racional...

Eu chegava em casa, perguntava:
"Cadê, cadê Batata?",
Logo ela vinha correndo moleca,
Peluda, rajada, cativante,
Visão de ternura me livrando do mal
De ser sempre prático e grave...

Minha gatinha morreu
E levou um pedaço de mim,
Pra sempre enterrado com ela,
Na covinha no fundo do quintal.

Saudade de bicho também arrasa o coração da gente...

"Cadê, cadê Batata?"











18/07/2011

domingo, 17 de julho de 2011

A Torre de Encanto

O mundo não existe sem minha menina
E todo o encanto ruiu em desenganos...

Eu mesmo sou torre condenada
Sem o alicerce do beijo da menina
E o mundo parece não existir
Sem a ilusão de uma fábula.

“Era uma vez
Um audacioso trovador,
Que escalou as paredes do castelo
E não gostou do epílogo da história”...

A própria princesa derrubou a torre,
Nesse finalzinho cruel que ninguém espera.



01/07/1995

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Se Eu Cruzasse A Ponte

O retrato me arde as vistas,
É como uma ponte incorrigível
Entre esta e a outra década...

As nuvens plúmbeas e mortiças no céu,
Vazio automotor na avenida principal,
O campo santo onde eu queria meu termo,
Tudo enquadrado e, lá em cima,
O colégio onde tropecei no amor de fato
E punha torpedos dóceis sob uma carteira.

Era um tempo de especular a vida
E minha curiosidade falhou...

Se eu pudesse transpor a ponte
Entre essa e aquela década,
Faria tudo diferente?
Buscaria novas metas e acertos?

Faria tudo identicamente, sim,
E depois um retrato saudoso,
Com sua dormência afetiva,
Me arderia as vistas, de novo....




15/03/2001

sábado, 2 de julho de 2011

Ocelos

Meu pai com suas excentricidades líricas,
Minha mãe com seu analfabetismo coerente,
Minha irmã se projetando no ranço da província
E a caçulinha se desdobrando no bairro acre...

Assim é a minha família, com suas visões oblíquas.

Pai de braços se cruzando no front,
Mãe de entendimento ascético,
Irmã fugindo para o mesmo pátio,
Caçulinha se fantasiando de incógnita.

Furei meu olho enganoso e vi longe,
Angústia por diferença e sendo igual
Na agitação e revolta, engolida pela letargia
Da minha família, herança que descarto.

A caçulinha se fantasiando de promessa...

Beijo-a nas bochechas e espero.




14/02/2000

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Descompasso

Eu não sei dançar...

Mas fico acompanhando seus passos pela pista,
Nessa lentidão que lanha o ser.

Avilto essas torturas harmoniosas,
Que me fazem solitário entre seres bailantes,
Perco-me no compasso de minhas ilusões,
Dançarinas que me aliviam...

E não sei dançar,
Mas te quero dançante,
Em performance bem além do salão...

Dança comigo uma dança secreta,
Que não precise de meias-voltas?

 

01/11/1992


Da Série: "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (6)

"O espírito de revolta nos ajuda a viver com mais intensidade".
Da Série: "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (5)

Seja louco... Mas com responsabilidade".

terça-feira, 21 de junho de 2011

Beijo

Difícil mesmo é guardar o beijo
Para mais tarde, naquela boca,
E ir acumulando carinho na espera,
E inquietar a alma na expectativa
Desse beijo que vai ditar a vida,
Coroando todos os silêncios
Com aquilo que o coração previu.

 

18/5/2005

domingo, 19 de junho de 2011


Balada

Ai, como eu tenho pena desses simples,
Que nunca viram nada
E acham o arame farpado
A coisa mais fantástica do mundo!...

Quem já se embriagou de Sampa,
Nunca mais abandona esse porre.

Ai, como eu tenho pena dessa sobriedade!...



15/02/2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ofertório

Este amor que te ofereço agora,
Está assegurado pela sanidade,
Não se precipita em abismos inúteis,
Não se perde em oceanos mansos...

Ah, este amor não se mistura ao velho ranço,
É uma imensa novidade aos meus sentidos,
Melhora minha perspectiva, denota meu ajuste,
Esse amor não deixa rastros de destruição...

Este amor que te ofereço agora,
Está imune a qualquer doença,
Não se converte em lágrimas previsíveis,
Não mente nunca, esse amor...

 

12/06/2011
•INCONSCIENTE FLUTUANTE•
Em fevereiro de 2008 conheci um sujeito emblemático e inesquecível. Inteligência, constestação, inquietude. End Fernandes, menino de cavanhaque indefectível, que gostava de desdizer (coerentemente) as coisas que os professores do curso técnico apontavam como verdades. Era uma classe diminuta, com adolescentes que estavam ali pra qualquer coisa que não fosse aprender (coisas desse Brasil profuso em ETECs e burrice) e eu, um "extraterrestre" de 37 anos no meio daquela gurizada, me tornei amigo do End porque ele não tinha o raciocínio de uma samambaia. Genialidade sem tolas vaidades, sem arrotos intectualóides... Por isso sou fã desse sujeito.

E por isso acompanho e indico uma viagem ao www.inconscienteflutuante.blogspot.com
Se você for um de nós, sua cabeça nunca mais será a mesma...

Estive ausente do Empório por um período que pode aparentar descaso com a clientela (apesar dessa clientela ser ainda escassa como em arrabaldes distantes). Foram vários os motivos: convalescença por causa de um mosquito arrasador, ingresso no trabalho burocrático, ócio criativo. Volto agora pra detrás do balcão desse secos & molhados, ofertando minhas quinquilharias...

Sejam sempre bem vindos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ribombar

O beijo depositou-se em tua boca
E teve a arrogância de ser dono dos segundos...
Ser beijo eterno para nunca mais acabar.

Mas tua boca interrompeu o beijo,
Para perguntar com certeza prévia,
Se a tempestade viria para o nosso lado.

Foi quando o trovão me atingiu a cabeça.


 

24/3/1998

sábado, 21 de maio de 2011

Íris

Evitar seus olhos talvez seja medo,
Uma maneira de me por em segurança
Diante deste sentimento iniciante.

Talvez seja medo de ver meus próprios olhos
A se refletirem na profundidade dos seus,
Em busca do brilho que pode não vir.

Não mergulho em seus olhos
Pra não vasculhar seus segredos
E me arriscar a não me ver entre eles.

 

16/07/1994
Da Série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (4)

"A vida já é injusta com os vitoriosos, quem dirá com os perdedores".
Da Série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (3)

"O amor dos homens não está previsto em sua habilidade para jogar futebol".

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Todos Os Dias

Eu quero todos os dias essa alegria,
Acordar todos os dias ao lado desse milagre,
Ter todos os dias sua companhia e minha salvação.

Eu quero que tudo se repita enquanto eu for vivo,
Todas essas pequenas coisas que eu busquei tanto:
Poemas bem aceitos, apegos de família, prazer sem tristeza.

Eu quero todos os dias essa sintonia,
Perceber todos os dias a solidão enterrada mais funda,
Ver todos os dias você renascendo de um sonho sem fim.

                                                               (Para Minha Marta)
 

27/10/2010

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Cavalo de Tróia 

Imaginei ter aprendido a evitar a dor
Destas chagas abertas por afeição,
Estando a salvo da feroz investida,
Tendo vetado o amor ao pensamento.

Mas foi um engano, uma mentira e um erro,
Querer estar fechado para ter integridade,
Meu engano revelou-se pelos teus olhos,
Minha verdade virou mentira no teu sorriso.

Desci de minha torre, de meu resguardo,
Para ter certeza do tesouro encontrado,
Mas esta arca não se abre com minhas chaves,
Está nas mãos, mas não posso perscrutá-la.

E quando aberta, era dor seu conteúdo,
Como as dores que obtive na luta,
Não havia nada de bom no provento,
Requinte de oferta troiana.

 Tróia

26/12/1997

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Ribalta em Off

Espanto-me com a descoberta de escombros,
A escuridão na ribalta que planejei,
Tenho medo das pessoas e me escondo,
Esta salva de palmas quase me agride,
Preciso de silêncio para criar,
Manifestar toda minha desilusão
Com a ruína de novo castelo de sonhos.

Vou escrever um novo drama,
Onde absolutamente não me encontre,
Compor minha personagem silenciosa,
Imprescindível do alto de meu esconderijo.

Até me sentirei como Deus detrás do pano,
Ali eu matarei quem bem entender
Ou será uma ressurreição a cada novo ato:
- Levanta-te e anda!

Vou ser pornográfico, vou ser santo,
Não vou deixar nada no lugar,
Mas não estarei presente no mundo que criei,
Que sou um criador incorpóreo e sei meu lugar.

 

07/12/1996

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Matéria do Pão

Tenho desejado tantas pessoas a meu lado,
Fiz uso da poesia para abrandar minha fome
E encontrei mil fontes inspiradoras,
Corpos mais ou menos perfeitos,
Que guardei para devorar no fim de tarde,
Quando a solidão é coisa mais premente,
Tanto fora quanto dentro de mim.

Tenho desejado tantas pessoas
E tenho visto meu alimento perder-se,
A preciosidade dos grãos perdidos na areia,
Meu trigo, meus grãos de mostarda,
A falta de pão, a falta de alguém em meu corpo.

Tenho desejado tantas pessoas a meu lado,
Fiz plano para meu repasto entre saraus
E meu leito fez-se távola vazia,
Corpos totalmente ausentados,
Que esperava devorar através da noite,
Quando a solidão era a fome mais abrupta,
Tanto fora quanto dentro de mim.

Meu alimento misturou-se com o vento
E a matéria do pão revolveu-se
Com os flocos de areia...


 

31/8/1997

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Curvatura

Sou caudaloso, tão logo o cansaço da retidão me atinja,
Enquanto olho o campo verdejar, com minhas vistas cinzas,
Meu coração turbulento e meu ofegar monóxidos.

Lá não tem tanta fumaça de carros, lá na minha terra natal,
E tem menos assassinatos e menos raves (nenhuma!) pra gente ir,
Lá não tem alternativa, senão não alternar nunca...

RETIDÃO SEMPRE! A perfeita hipocrisia da perfeição,
Comportar-se, compor-se, comprimir-se...

OUSAR NUNCA! O mundo se delimita aquém dos pastos,
Da serenidade dos pastos, do bucolismo dos pastos,
Da bosta verde dos pastos...

O que quero eu dizer com isso?
Que não amo minha terra parca e provinciana?

Amo-a.
Estou indo pra lá como bom filho da terra,
Logo eu que nunca fui desses exemplos de patriotismo.

(Oxalá, um dia os States comprem a gente!)

Filho rebelde à casa torna, mas não fica.


8/12/1999

sábado, 14 de maio de 2011

Anacrônicos

Calculo que deixei de ter você,
Não pelo amor ter sido extinto
Ou o desejo ter sido aplacado.

Foi o tempo que deixou um imenso vão entre a gente,
Jogou-nos nesse mundo em épocas diferentes...

Quando você nasceu, eu já tinha medo do amor,
Já tinha me desiludido quase a ponto de desistir,
E você aí, na segurança da verdadeira inocência,
Vindo na minha direção através de tantos anos...

Foi o tempo que desacertou nossos ponteiros,
Foi o tempo que passou pra mim, começou pra você...

 

03/03/2010

Da Série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (2)

"É proibido criar cavalos no apartamento".
Da série "Pensamento Vivo Através dos Tempos" (1)

"A única pessoa desconhecida que me permito ser, sou eu mesmo".

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Velho Gato do Armazém

A vida foi passando
Bem diante dos meus olhos
E eu pouco me importava
Se os dias não eram de meu domínio
E amanheciam para anoitecer.
Eu respirava compassadamente,
Como se não importasse
O tardar das horas
Ou o tempo ultrapassado.
Julgava ter sete vidas,
Cada uma a viver em plenitude,
Todas com uma gama de possibilidades
De viver vendo a vida passar.
Lá fora as ruas estão vazias,
Vejo meus iguais sobre os muros.
Eles também deixam a vida passar
E logo a noite cairá sobre eles.
A vida ia passando
E eu pouco me importava,
Vez em quando recebia um afago
E me sentia o dono do pedaço.
Aqui do meu canto eu vejo tudo
E não digo palavras tolas
Que poderiam machucar.
Ás vezes desfilo por aí,
Quero alegrar alguma criança
Que esteja um tanto sombria.
É que eu sei encantar,
Mesmo sem poder sorrir.
Aquele homem no canto me chama,
Seus olhos estão sem esperanças
E ele me murmura seus segredos,
Com a certeza de que não os vou espalhar.
Era assim mesmo que a vida passava,
As ruas continuavam vazias,
Andradina não estava em festa
E ainda podia ver meus iguais,
Que passavam do alto dos muros
Para os telhados das casas,
Do lado inverso da rua.
A vida foi passando
Bem diante de meus olhos,
A noite caiu sobre todos nós.
E o dono do armazém veio
E fechou as portas.

 

22/12/1995

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Graal

Sobre toda essa minha busca
Pelo inexistente defendido,
Pairou sempre a luz da certeza.

Estou certo de que o cálice não estará vazio,
Estou certo de que beberei dos teus cuidados,
Nada fará com que eu desacredite
Naquilo que de mais valioso tenho.
 










31/12/2008

terça-feira, 10 de maio de 2011

Se Eu Cruzasse A Ponte

O retrato me arde as vistas,
É como uma ponte incorrigível
Entre esta e a outra década...

As nuvens plúmbeas e mortiças no céu,
Vazio automotor na avenida principal,
O campo santo onde eu queria meu termo,
Tudo enquadrado e, lá em cima,
O colégio onde tropecei no amor de fato
E punha torpedos dóceis sob uma carteira.

Era um tempo de especular a vida
E minha curiosidade falhou...

Se eu pudesse transpor a ponte
Entre essa e aquela década,
Faria tudo diferente?

Buscaria novas metas e acertos?

Faria tudo identicamente, sim,
E depois um retrato saudoso,
Com sua dormência afetiva,
Me arderia as vistas, de novo....


15/03/2001

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Brejo Triste

A bênção, padrinho!

O senhor não era pra ter morrido, não...

O senhor morreu e a fazenda morreu junto.

Derrubaram a casa branca,
Desfalcaram as laranjeiras,
Baniram as galinhas caipiras...

E o jipe branco que não roda mais,
Cortando a estrada, indo comprar pão?

E a papagaia atrevida, que não canta mais meias canções?

A fazenda se afundou num brejo triste, padrinho...

O senhor não era pra ter morrido, não...

10/03/2010

sábado, 7 de maio de 2011

Ártico

O amor me vem de novo,
Com sua ênfase inquestionável
E sua felicidade aparente.

Mas já me esqueci
- Arre! –
Os caminhos para o Ártico.

 

07/10/1994

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Galos Cantando

Talvez nada disso esteja aqui
Depois que o galo cantar
E o Sol voltar a alumiar
Os caminhos do mundo.
               
Talvez eu volte a me partir
Depois que a dor recapitular
E o amor se desmascarar
Como um inimigo profundo.

Talvez eu venha a me demolir
Depois que o tempo passar
E ela não se entregar
Para tornar meu solo fecundo.

Talvez os galos cantem avisando
Que o amor não esperou o dia amanhecer.

 

14/12/1997