segunda-feira, 18 de julho de 2011

    Gatinhos Choram 

      "Se existe algo que a vida me ensinou é o seguinte: nunca chore por alguma coisa que não possa chorar por você...", disse, certa vez, o ator italiano Vittorio de Sica. Discordo e tenho pena de pessoas assim...
      Minha gatinha Batata morreu no sábado, com poucos meses de vida, dizimada por uma doença horrível e deixando meu coração em pedaços. Chorei muito e não tenho vergonha de confessá-lo.
      Queria muito ver a Batatinha crescer, brincar no gramado do quintal, rosnar pela comida, ronronar no meu colo e isso não vai mais acontecer...
      E quando ela miou triste, se despedindo da gente, senti ali uma lágrima...
      Gatinhos choram, Seu Vittorio...



18/07/2011
Batata

Um bichinho vai embora
E leva um pedacinho da gente...

Desculpem-me essa sentimentalidade,
Mas minha gatinha morreu
E, homem feito, chorei por isso,
Arrebentei meu peito racional...

Eu chegava em casa, perguntava:
"Cadê, cadê Batata?",
Logo ela vinha correndo moleca,
Peluda, rajada, cativante,
Visão de ternura me livrando do mal
De ser sempre prático e grave...

Minha gatinha morreu
E levou um pedaço de mim,
Pra sempre enterrado com ela,
Na covinha no fundo do quintal.

Saudade de bicho também arrasa o coração da gente...

"Cadê, cadê Batata?"











18/07/2011

domingo, 17 de julho de 2011

A Torre de Encanto

O mundo não existe sem minha menina
E todo o encanto ruiu em desenganos...

Eu mesmo sou torre condenada
Sem o alicerce do beijo da menina
E o mundo parece não existir
Sem a ilusão de uma fábula.

“Era uma vez
Um audacioso trovador,
Que escalou as paredes do castelo
E não gostou do epílogo da história”...

A própria princesa derrubou a torre,
Nesse finalzinho cruel que ninguém espera.



01/07/1995

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Se Eu Cruzasse A Ponte

O retrato me arde as vistas,
É como uma ponte incorrigível
Entre esta e a outra década...

As nuvens plúmbeas e mortiças no céu,
Vazio automotor na avenida principal,
O campo santo onde eu queria meu termo,
Tudo enquadrado e, lá em cima,
O colégio onde tropecei no amor de fato
E punha torpedos dóceis sob uma carteira.

Era um tempo de especular a vida
E minha curiosidade falhou...

Se eu pudesse transpor a ponte
Entre essa e aquela década,
Faria tudo diferente?
Buscaria novas metas e acertos?

Faria tudo identicamente, sim,
E depois um retrato saudoso,
Com sua dormência afetiva,
Me arderia as vistas, de novo....




15/03/2001

sábado, 2 de julho de 2011

Ocelos

Meu pai com suas excentricidades líricas,
Minha mãe com seu analfabetismo coerente,
Minha irmã se projetando no ranço da província
E a caçulinha se desdobrando no bairro acre...

Assim é a minha família, com suas visões oblíquas.

Pai de braços se cruzando no front,
Mãe de entendimento ascético,
Irmã fugindo para o mesmo pátio,
Caçulinha se fantasiando de incógnita.

Furei meu olho enganoso e vi longe,
Angústia por diferença e sendo igual
Na agitação e revolta, engolida pela letargia
Da minha família, herança que descarto.

A caçulinha se fantasiando de promessa...

Beijo-a nas bochechas e espero.




14/02/2000