domingo, 25 de outubro de 2009

Divagações do Amor Morto

Se o amor não tivesse morrido,
Eu bem que me apaixonaria por você,
Sem medo do fogo ou da água que o arrefece.

Tem tanta coisa que eu já vi queimar,
Meu coração é um braseiro exaurido,
Na incidência dos ventos que o amor soprou...

O vento balançou a roseira e desnudou a rosa
- Pobre rosa, um coração com pétalas-,
Depois o vento finou-se no mormaço árido
De uma cena árida, sem roseiras, sem terra fértil,
Um canteiro cimentado de poemas inúteis.

A ineficiência da poesia, esse contra-senso
Dito pela boca daquele que entoou sonetos,
Formado pela língua e garganta oprimidas
Na réplica silenciosa de belas donas surdas,
Este contra-senso é o contra-senso advindo
De quem se afogou nas águas paradas do lirismo.
Terá morrido também a inspiração?
Não será mais que uma poça de lama lodosa
Onde os meus pés chafurdam?

E esta pena que traceja tais divagações
Sobre o amor que morreu sedento,
Na imprudente e nobre espera por água doce?

O oceano levou o amor e traiu sua sede,
Cercou-o de amplidão sem fim e fundura
E o amor desacostumou-se da luz do farol,
Exasperou-se de querer a carícia das areias,
Assumiu sua sede e afogou-se pesadamente,
Convencido da segurança das águas profundas.

Silêncio...

As ondas levam conchas à praia,
Levam garrafas com mensagens de amor,
Levam garrafas com pedidos de socorro,
Levam garrafas vazias...

O amor não retorna nessa fábula incomum,
Meu coração é um canteiro forrado por pedras de poesia.

Mas, se o amor não tivesse morrido,
Eu bem que me apaixonaria por você.








21/02/2002

Um comentário:

Empório Jaburu disse...

Sim, foi uma pena o amor ter morrido daquela maneira...